Durante o ano existem duas épocas bastante críticas para as empresas de TI, janeiro/fevereiro e julho/agosto, quando ocorre o destruidor Movimento Migratório dos Analistas de Sistemas, popularmente conhecido como MOMAS.
Nestas épocas, os contratos entre empresas e clientes são firmados ou renovados em grande volume, o que causa alguns efeitos colaterais no mundinho da TI, principalmente o MOMAS.
A demanda de mão-de-obra, natural e obviamente, cresce. Quanto maior o número de novos contratos, quanto maior a urgência pelas soluções contratadas, maior será o efeito causado: o Deslocamento em Massa dos Analistas de Sistemas entre as empresas de TI - o DEMAS.
Este é um efeito interessante, veja bem! Ele não ocorre simplesmente por causa da avassaladora oferta de maiores salários e benefícios, mas principalmente pela ação predatória de ex-colegas ou ex-superiores de trabalho, que convidam seus amigos-analistas-ex-colegas-de-trabalho, que trabalham sossegadamente na empresa-vítima, para incrementar o grupo de colaboradores de sua atual empresa.
Os analistas, raça ingênua e despreparada que são, trocam fácil fácil a pacífica sobrevivência na atual empresa pela alucinante aventura de prazos surreais e jornadas de trabalho torturantes. Tudo por causa de alguns [em alguns casos, muitos] benefícios a mais.
O que se observa, e com muita frequência, é que os analistas-migradores se arrependem da migração. O arrependimento é patológico, haja visto que o estresse ocasionado pela migração também o é. Muitos ficam ainda mais agoniados quando o analista-amigo que lhe ofereceu a migração, veja só, também migra! Aí o sentimento de perda, ter sido usado, manipulado, é total. A depressão toma conta do analista-migratório e, em casos agudos, pode ocasionar a mudança progressiva e definitiva de carreira.
Por outro lado, a empresa-vítima, de onde o analista-migrador saiu, fica desfalcada. Esperneia daqui, dali, contrata um ou outro estagiário e, depois de muito lutar, consegue restabelecer sua saúde empresarial, reconstruindo o corpo de colaboradores à custa de entrevistas cansativas e infindáveis períodos de experiência. Não raro, o processo de restabelecimento da empresa-vítima consiste em aplicar a mesma tática da empresa-predadora, e torna-se também uma empresa-usurpadora-de-recursos-capacitados. Isto caracteriza o fenômeno chamado Cobra Engolindo Cobra - CECO.
Outra época do ano em que o MOMAS, o DEMAS e o CECO são frequentes, é novembro/dezembro. Neste período as empresas de TI encontram-se alvoroçadas [pra não dizer desesperadas] para cumprir prazos firmados em janeiro/fevereiro ou em julho/agosto. O fim do ano é tradicionalmente o período predileto para combinar entrega de soluções e destruir feriados em família dos analistas-migradores. Sabe como é, cliente que se preze quer entrar no novo ano com sistema novo, cara nova!
Como o atraso é intrínseco ao processo de desenvolvimento, quando os contratos estão próximos do fim e longe da entrega, o prazo cada vez mais apertado, as empresas-desesperadas saem em busca de analistas-migradores-altamente-capacitados para tentar salvar seus projetos, cumprir seus prazos e ficar bem na fita com o cliente-fodão. Quanto mais crítica a situação da empresa-desesperada, melhores as ofertas, maiores os salários e benefícios oferecidos. A pobre da empresa-vítima normalmente nem tem condições de rebater a proposta oferecida ao seu precioso recurso.
O mundinho da TI está evoluindo muito rápido. O que tá difícil de evoluir é a lealdade e ética nos RH´s das empresas.